De Perus à África: Trupe Liuds leva espetáculo sobre mulher negra para Moçambique
Trio está em Moçambique desde o começo do mês
Uma boneca africana inicia uma longa trajetória em busca das raízes ancestrais. Criada pela Trupe Liuds, em Perus, na região noroeste de São Paulo, a história de Mjiba – a boneca guerreira – atravessou o Oceano Atlântico e chegou às crianças da Maputo, em Moçambique.
A trupe viajou na primeira semana de junho para o continente africano, onde ficará até o final do mês.
Formada pelos palhaços Torradinho (Valmir Santana), 29, Candango (Clébio Ferreira), 34, e Gigica (Girlei Miranda), 57, a peça foi uma das selecionadas pelo FITI (Festival Internacional de Teatro de Inverno) de Maputo.
A trupe também está ministrando oficinas de comicidade negra e faz debates com artistas da região.
Para os integrantes, a viagem até Moçambique simboliza um verdadeiro fechamento de ciclo, seja para o grupo, que agora inicia novas pesquisas, quanto para a personagem Mjiba, que finalmente encontra as origens africanas.
O espetáculo conta a história de dois palhaços carteiros que, ao se depararem com uma encomenda sem remetente, encontram algo inesperado dentro dessa caixa: uma boneca negra.
De forma leve e ao mesmo tempo educativa, os palhaços falam sobre a história da colonização e da escravidão que atravessa o Brasil pela ótica da mulher negra, trazendo ao palco as discussões sobre a padronização da imagem feminina.
“O espetáculo levanta discussões bem relevantes ao atual momento da luta das mulheres e principalmente das mulheres negras, e faz com que crianças e jovens discutam as formas de educação impostas, que na maioria das vezes é opressora e machista”, aponta Clébio, o palhaço Candango.
TRUPE
Criada em 2006, com o intuito de difundir a arte circense na periferia de São Paulo, a trupe é uma companhia composta por palhaços negros e moradores da periferia.
Eles utilizam a linguagem lúdica para recriar a realidade cotidiana e, assim, despertar o imaginário das pessoas em relação à questão de raça. Misturando cenas do circo tradicional à cultura popular, a Trupe Liuds também tem como proposta ocupar espaços públicos e espaços ociosos com espetáculos, oficinas e intervenções circenses.
Para os integrantes, estar no continente africano é um caminho para conhecer mais da história ancestral brasileira e desmistificar a região, muitas vezes representada de maneira negativa pelos livros didáticos.
Fonte: Folha de São Paulo